"A renegociação dos direitos de televisão com a Olivedesportos prova que o Benfica vive uma era diferente. Mais próspera. O clube acaba de recusar uma proposta para o triplo do valor que recebe hoje, o que não pode estar a fazer sem um plano B. Nem sem ganhar na Champions.
Há pelo menos dois anos que Benfica e Olivedesportos estão a negociar os direitos para os jogos na Luz. Os negócios da controladora da Sport TV com o Porto e o Sporting já foram fechados, mas o Benfica cisma em subir o preço. Está a conseguir: o preço já está no nível mais elevado entre todos os clubes. O Benfica, que hoje recebe 8 milhões por ano, recusou 22 milhões para cada um dos anos entre 2013 e 2018, num total de 111 milhões.
O valor está muito afastado dos 40 milhões de euros que, supostamente, Miguel Pais do Amaral estaria disposto a oferecer. Aqui escrevi que Pais do Amaral devia estar louco se ponderava tal valor. Se ponderava, “desponderou” – desistiu. O Benfica está agora entre a Olivedesportos e a gestão própria dos direitos. Na prática, isso significaria também uma mudança de poder entre duas empresas detrás destas negociações: a ZON (acionista da Sport TV) e a PT (dona do Meo, que tem acordo com a Benfica TV). Ora, dificilmente a Sport TV poderá esticar mais a sua oferta: o mercado da publicidade está péssimo, a ignóbil pirataria prolifera.
O Benfica está a controlar o processo, o que no passado era impossível, por fragilidade económica. A presidência de Vieira é responsável pela inversão do estado calamitoso do clube, agora gerido com estratégia – e resultados. Só esta época o Benfica encaixou 19,2 milhões na Champions. E, mesmo abaixo dos sonhos impossíveis dos 40 milhões por ano, os direitos televisivos vão trazer uma pipa de massa à Luz. Olé.
Por: Pedro S. Guerreiro em Record"
A situação económica do Benfica é hoje incomparável com a do início da década. A capacidade de gerar receita da SAD está hoje consolidada, com algumas áreas ainda com potencial de crescimento, designadamente os direitos televisivos, a nível de bilheteira e patrocínios. Ainda assim, na estrutura actual de receitas, a participação constante na Champions e a realização de mais-valias com a venda de passes de jogadores são elementos essenciais para assegurar estabilidade e a manutenção de um nível competitivo superior.
É um modelo que implica algum risco e necessita de um controlo muito cuidado da estrutura de custos e a exploração exaustiva de todas as fontes de receita ordinárias e a procura constante de novas fontes de receitas.
Implica ainda uma gestão cuidada da imagem da SAD e a minimização da exposição a outros factores externos. Estes são dois factores onde a SAD ainda não é tão profissional como eventualmente já deveria ser. As relações institucionais com outras SADs, com a Liga e com a Federação têm que ser geridas. E aproveitar o peso específico do Benfica em prol da competição e não apenas em proveito próprio. Reconhecer que, em termos da organização da competição o Benfica ganha quando as restantes SAD/clubes também ganham. As relações de dependência da generalidade das SAD/clubes a outras entidades ou SADs ou clubes não beneficiam a competição e, olhando no médio e longo prazo, não são no interesse do Benfica.
É também isto que está em causa nos próximos meses.
Até final do campeonato, a decisão das posições finais na tabela e a necessidade imperiosa de o Benfica assegurar no mínimo a presença directa na Champions de 2012-13.
No que diz respeito aos direitos televisivos, maximizar o valor da receita qualquer que seja a solução encontrada. E neste particular, manter presente as relações de poder associadas à Olivedesportos e potenciais consequências ao nível da organização da competição em Portugal, i.e., manter um certo status quo ou não. Certo é que a posição negocial do Benfica é atualmente incomparavelmente mais forte que no passado. Assim se saiba definir o que se pretende alcançar.
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